Uma proximidade re-coreografada – intimidade, tempos de isolamento e a performance de um-para-um

Autores

DOI:

https://doi.org/10.34619/x2tl-vhid

Palavras-chave:

performance de um para um, performance digital, pandemia covid-19, proximidade, artes performativas

Resumo

Da intimidade às interacções sociais, as relações humanas, e as fronteiras e noções que as rodeiam, estão constantemente a ser alteradas e reformuladas. Fomos forçados a refletir sobre este aspecto durante a pandemia da Covid-19, que instalou um "estado de exceção" (Nancy 2020), que enfatizou o "processo inexorável de caotização da vida” (Gil 2018, 408), e que ocorreu à escala global.
Na esfera pública, assim como na esfera privada, os corpos foram reposicionados, obrigados a mover-se através de diferentes ritmos, "a abandonar o frenético e a aceleração" (Berardi 2020). Perante as medidas de "confinamento" que impunham pausa e distância, fomos re-coreografados, das dinâmicas sociais às relações pessoais e íntimas.
De que modo foram, nestes tempos, utilizadas as plataformas digitais, e de que forma o seu potencial discursivo e subversivo foi usado nas artes performativas para explorar a proximidade, a intimidade e o afeto?
Partindo destas questões, e considerando que as artes performativas estão enraizadas na corporeidade, na fisicalidade e na partilha espácio-temporal do evento espetacular (Fisher-Lichte 2019, 77), envolvendo interação e proximidade, esta apresentação centra-se em performances de um para um, que foram desenvolvidas durante os tempos de isolamento social.
A partir da análise de performances neste formato singular, para público de um espetador apenas, e da análise de entrevistas e conversas com artistas que trabalham neste campo, este artigo pretende salientar aspetos particulares sobre a utilização criativa de plataformas digitais nas artes performativas, e o seu papel no debate sobre interações íntimas, simulação e performatividade no digital.
Pretendemos observar de que forma as perspectivas levantadas por estes artistas e obras, contribuem para problematizar o impacto das tecnologias digitais, e podem operar na discussão de novos caminhos e olhares sobre as relações humanas na era da ‘transição digital'.

Biografias Autor

Raquel Rodrigues Madeira, Universidade NOVA de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas ICNOVA — Instituto de Comunicação da NOVA, Portugal

Raquel Rodrigues Madeira é investigadora do Instituto de Comunicação da NOVA (ICNOVA) – GI Performance e Cognição, e bailarina. Doutoranda em Ciências da Comunicação (especialidade Comunicação e Artes) na NOVA- FCSH, com o projeto de doutoramento intitulado "Da Internet para os palcos da Dança: participação, intermedialidade e novas colaborações entre o físico e o digital”, com apoio da FCT (Fundação para a Ciência e a Tecnologia), ref. 2020.06202.BD. Mestre em Artes Cénicas pela Universidade NOVA de Lisboa (NOVA-FCSH), e licenciada em Dança pela Escola Superior de Dança (ESD-IPL). Em 2021 foi distinguida com o Prémio Estudar a Dança, atribuído pela Direção Geral do Património Cultural, através do Museu Nacional do Teatro e da Dança. Co-editora da CRATERA, site do Grupo de Investigação Performance e Cognição do ICNOVA.

Cláudia Madeira, Universidade NOVA de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas ICNOVA — Instituto de Comunicação da NOVA, Portugal

Cláudia Madeira é professora associada com agregação no Departamento de Ciências da Comunicação da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e vice-coordenadora do Grupo Performance & Cognição do ICNOVA. É corresponsável do cluster Performance Arte & Performatividade nas Artes (ICNOVA e IHA), e colaboradora do Centro de Estudos Teatrais (CET/FLUL) como investigadora no Grupo de Investigação em Teatro e Imagem. Concluiu o programa de pós-doutoramento, Arte Social, Arte Performativa? (2009-12) e o doutoramento em Sociologia sobre Hibridismo nas Artes Performativas em Portugal (2007), pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Além de vários artigos sobre novas formas de hibridismo e performatividade nas artes, é autora de Performance Art in Portugal (Routledge, 2023); Arte da Performance made in Portugal (ICNOVA Ebook 2020); Uma Aproximação à(s) histórias da performance portuguesa (2020); “Práticas de Arquivo em Artes Performativas” (Imprensa da Universidade de Coimbra 2019); Híbrido. Do mito ao Paradigma Invasor (Mundos Sociais 2010) e Novos Notáveis: Os programadores culturais (Celta 2002). Leciona nos cursos de licenciatura e mestrado do Departamento de Ciências da Comunicação da NOVA FCSH.

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LADA- Live Art Development Agency.

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Publicado

2024-11-29

Como Citar

Madeira, R. R., & Madeira, C. (2024). Uma proximidade re-coreografada – intimidade, tempos de isolamento e a performance de um-para-um. Revista De Comunicação E Linguagens, (60), 280–304. https://doi.org/10.34619/x2tl-vhid