A voz ou a plenitude do texto. Performance oral, práticas de leitura e identidade literária no Ocidente medieval

Autores/as

  • Carlos F. Clamote Carreto Universidade Aberta, Departamento de Humanidades Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Instituto de Estudos de Literatura e Tradição 1269-001 Lisboa, Portugal

DOI:

https://doi.org/10.4000/medievalista.958

Palabras clave:

Literatura Francesa Medieval, Tradição oral e cultura escrita, História da leitura, História do Livro

Resumen

Num célebre episódio relatado no livro VI, 3 das suas Confissões, Santo Agostinho manifesta a sua perturbação e perplexidade perante a atitude do seu mestre e amigo Ambrósio cujos olhos deambulam, em absoluto silêncio, pelas páginas de um manuscrito. Porquê este espanto que a crítica se apressou a interpretar como uma inequívoca prova de que a Alta Idade Média, herdeira dos modelos da Antiguidade Clássica, cultivou essencialmente a leitura em voz alta, ao invés da Baixa Idade Média (essencialmente a partir dos séculos XI-XIII) que teria inventado a leitura silenciosa, prática que o progressivo alargamento das comunidades textuais (Brian Stock) viria acentuar de forma irreversível? Partindo do testemunho privilegiado da literatura francesa medieval (mas não só), estas reflexões visam questionar a concepção evolucionista e cognitiva da leitura recentrando a problemática na irredutível tensão – que tem em parte caracterizado cultura ocidental – entre a letra e a voz, entre uma idealização da escrita erguida à esfera mágica do sagrado (ou da Lei) que coloca a performance oral sob o signo da afabulação corruptora, e uma longa tradição que, de Platão a Hegel, assimila o logocentrismo a um fonocentristo em que a escrita, significante do significante (Jacques Derrida) não passa de uma cristalização redutora da voz da qual emana a totalidade do ser e a plenitude da palavra. 

Publicado

2016-01-01

Cómo citar

F. Clamote Carreto, C. (2016). A voz ou a plenitude do texto. Performance oral, práticas de leitura e identidade literária no Ocidente medieval. Medievalista, (19). https://doi.org/10.4000/medievalista.958

Número

Sección

Artículos