Sobre a medialidade das ferramentas etnográficas: do caderno de campo à etnografia digital, o contador de histórias como media de memória exteriorizada

Autores

DOI:

https://doi.org/10.34619/ldxk-pyba

Palavras-chave:

arqueologia dos media, observação participante , narração de histórias, retenção de conhecimentos, gramatização híper-industrial, mnemotécnicas

Resumo

Através de um trabalho de campo que aspire à observação participante, os etnógrafos mergulham na vida de uma realidade tecno-geográfico-humana particular. Uma investigação ontogénica coloca os media nocentro da experiência antropo- lógica do trabalho de campo: observar é registar informação — e das descrições cristalizadas nos cadernos de campo dos primeiros observadores participantes, à posterior agregação de imagens fotográficas, som e filme, e mais recentemente com a relevância dos algoritmos desencadeados pela etnografia digital, a memória é continuamente armazenada. À luz destas implicações ontológicas, este artigo propõe uma escavação arqueológica à natureza medial das ferramentas et- nográficas para encontrar os contadores de histórias enquanto media de memória exteriorizada. Seja no artesanato,na vida marítima, no trabalho rural ou na oficina, as histórias eram contadas como um meio de retenção de saberes que avaliava a validade da experiência ao longo do tempo.
Porém, as transferências de conhecimento são passagens vulneráveis à perda de informação estrutural. A gramatização híper-industrial é, como demonstra Stiegler (2007), o culminar de um longo processo de hipomnése, daí que a educabilidade técnica tenha de considerar a perda de conhecimento e de memória que ocorre aquando da transferência de conhecimento. Daí a importância do contador de histórias, que funcionacomo media de memória exteriorizada nas histórias que estão a ser contadas. Como conclusão, defendemos que uma etno-história possa ser percebida como um meio retenção de técnicas e experiência de trabalho, o queé relevante para a constituição de um enciclopedismo técnico mais alargado.

Biografia Autor

Catarina Patrício, Lusófona University, CICANT, Portugal

Catarina Patrício (b. 1980) is a Visual Artist and Assistant Professor at ECATI, Lusófona University. She holds a Ph.D in Communication Sciences from FCSH-NOVA (2014), a MA in Anthropology of Social Movements from FCSH-NOVA (2008) and has an undergraduate degree in Painting from the Faculty of Fine Arts University of Lisbon (2003). The Portuguese Foundation for Science and Technology (FCT) funded both her doctoral and post-doctoral research. Integrated researcher at CICANT – Center for Research in Applied Communication, Culture and New Technologies (DOI 10.54499/UIDB/05260/2020), she publishes essays and exhibits artwork regularly.

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Publicado

2024-11-29

Como Citar

Patrício, C. (2024). Sobre a medialidade das ferramentas etnográficas: do caderno de campo à etnografia digital, o contador de histórias como media de memória exteriorizada. Revista De Comunicação E Linguagens, (60), 138–156. https://doi.org/10.34619/ldxk-pyba