Apostar na transmissão: autorrepresentação e temporalidades na confecção do livro coletivo “O que eu ensinei para a universidade”
Palavras-chave:
Psicanálise, Escrita, Transmissão, Tempo LógicoResumo
No trabalho com situações próximas de múltiplas violências e violações (violências pela mão do Estado, violências intrafamiliares etc), a construção de um trabalho de escuta pede não apenas tempo, mas uma atenção dedicada as questões da temporalidade. Apresentam-se aqui aspectos presentes na confecção do livro “O que eu ensinei para a universidade”, escrito por vários estudantes cotistas das universidades de Florianópolis (Santa Catarina-Brasil), participantes da GESTUS (Gestão Estudantil Universitária Integrar, ligada ao Projeto de Educação Comunitária Integrar), com o objetivo de contar suas histórias na luta pela permanência na universidade, diante dos altos os índices de evasão que apontam para atravessamentos sócio-políticos e étnico-raciais. A longa trajetória de confecção desse livro mobiliza a pensar temas como política, escuta de sujeitos afetados diretamente por situações críticas, transmissão e temporalidades. O livro aposta na possibilidade de transmitir, arquivar e inscrever no âm
bito público algo das experiências íntimas e singulares, circunscrevendo um lugar “êxtimo”. O livro traz relatos em primeira pessoa, fotografias dessas trajetórias e mostra os bastidores dos percursos dos cotistas nas universidades públicas, bem como aponta desafios, impasses e descobertas. O embasamento teórico deste trabalho está calcado na psicanálise de Jacques Lacan — além de outros psicanalistas, como Paulo César Endo, Miriam Debieux Rosa e Ana Maria Medeiros da Costa —, dialogando com Walter Benjamin, Roland Barthes e Marguerite Duras. São tomados como referência os três tempos apontados por Lacan no texto O tempo lógico e a asserção da certeza antecipada (1998): instante de ver, tempo para compreender e momento de concluir. Conclui-se que a aposta no trabalho de escrita e transmissão está implicada com a passagem por esses três tempos lógicos.
