Limbo das sarjetas: a omissão da cor na construção da Afrolatinidade em Spider-Man: into the Spider-Verse (2018)
DOI:
https://doi.org/10.34619/rhoh-psacPalavras-chave:
homem-aranha, afro-latinidade, sarjeta, margens, banda desenhada, miles morales, mentor de consciênciaResumo
O cinema, enquanto dispositivo de criação de sentido, tem o potencial de produzir imagens na mente dos seus espectadores, através da simples sugestão de ideias. Com pequenos símbolos é possível criar significados que operam na mente do observador através de um exercício analítico: quem vê um filme usa a sua capacidade de compreensão ou limitações interpretativas para ler o que está a observar no ecrã. Assim, as ausências, por exemplo, situações que acontecem fora do plano, ou representações incompletas de corpos, podem ser usadas para criar significados. E mais ainda quando aquilo que não é visto faz ruído de tal maneira que a sua existência se torna saliente. Ou seja, quando são omitidos elementos que, apesar da sua ausência, produzem eco na interpretação de um tipo de espetador capaz de os perceber. Esse é o caso do filme Homem-Aranha: no Aranhaverso (2018), que se apresenta como a primeira versão em cinema de um Homem-Aranha afro-latino.
Este artigo reflete sobre os elementos constitutivos com os quais a afro-latinidade é construída, para afirmar que Miles Morales como personagem é um instrumento presumivelmente inclusivo, que desenvolve de forma incipiente e precária a construção de uma afro-latinidade, limitando o personagem à sua cor de pele como elemento integrador. Propõe-se que tal precariedade na construção da afro-latinidade coincide com o facto de lhe atribuir a capacidade de se tornar invisível, eliminando assim o único aspeto inclusivo que o distingue. Conclui-se que é precisamente a personagem de pele negra, que pretendem tornar visível no discurso da diversidade e da integração racial proposto pelo plano narrativo da história, que carece de visibilidade, pelo que no filme a condição racial e a origem latina de Miles Morales permanecem num não-lugar que, em vez de tornar visível a afro-latinidade, a invisibiliza como método e “virtude” narrativa. Além disso, propõe a figura do mentor de consciência como um guia transformador que pode realmente ter um impacto na construção da identidade da personagem.
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