Terra nos Pulmões: Espectros das Imagens-da-Morte em Once Upon a Time in Anatolia (2011), de Nuri Bilge Ceylan
DOI:
https://doi.org/10.34619/dizt-xqufPalavras-chave:
imagem-tempo, imagem-da-morte, Nuri Bilge Ceylan, hauntologia, espectralidadeResumo
Este artigo analisa Once Upon a Time in Anatolia (2011) como um filme que aborda a morte não como um acontecimento representacional, mas como uma condição temporal articulada pela forma cinematográfica. Em vez de organizar a sua narrativa em torno da revelação, da causalidade ou da resolução, o filme de Nuri Bilge Ceylan desenvolve-se através do atraso, da repetição e da rotina procedimental, permitindo que a morte persista ao longo da paisagem, da duração e das práticas institucionais. O artigo sustenta que, em Once Upon a Time in Anatolia, a morte opera como uma pressão formal que molda a perceção e a narração sem se estabilizar em espetáculo ou fechamento.Com base na teoria da imagem-tempo de Gilles Deleuze, no conceito de imagem da morte de Susana Viegas e na hauntologia de Jacques Derrida, o artigo situa o filme de Ceylan numa tradição cinematográfica que torna a finitude perceptível por meio da organização temporal, e não da representação temática. A morte surge não como um ponto final, mas como uma condição interna ao próprio tempo, registada através da suspensão, da interrupção e do apagamento. A análise desenvolve-se a partir de leituras detalhadas de três motivos: a busca noturna pela estepe da Anatólia, o prolongado acompanhamento de uma maçã caída e a sequência da autópsia em que se descobre terra nos pulmões da vítima, posteriormente excluída do registo oficial. Esses momentos não funcionam de modo simbólico ou alegórico; antes, expõem como a morte persiste como duração e vestígio, moldando o movimento, a atenção e a documentação. Ao reformular a lentidão e a ambiguidade como mecanismos temporais, e não como efeitos estilísticos, o artigo oferece uma nova perspetiva sobre o cinema de Ceylan e contribui para debates mais amplos na filosofia do cinema sobre a relação entre tempo, morte e forma cinematográfica.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Secção
Licença
Direitos de Autor (c) 2025 Ömer Derdiyok

Este trabalho encontra-se publicado com a Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0.