Entre duas mortes:
imagens-tempo negativas espectrais no cinema do Sul Global
DOI:
https://doi.org/10.34619/hd8l-rkt6Palavras-chave:
imagem-tempo, hauntologia, cinema do Sul Global, dívida temporal, ruínasResumo
Este ensaio introduz o conceito de imagem-tempo negativa para explorar como certos filmes contemporâneos do Sul Global funcionam como regist os cinematográficos de uma dívida temporal. Com base na teoria da imagem-tempo de Gilles Deleuze, na hauntologia de Jacques Derrida, na noção lacaniana de “entre duas mortes” e nas reflexões de Mark Fisher sobre futuros perdidos, a imagem-tempo negativa refere-se a uma articulação cinematográfica do tempo marcada pela ausência, pela espectralidade e por uma cronologia desalinhada, uma temporalidade fantasmagórica fora de compasso com o presente. Esses filmes tratam a história, não como uma narrativa resolvida, mas como uma dívida persistente: traumas passados e futuros forcluídos continuam a assombrar o agora, exigindo reconhecimento. O ensaio concentra-se em três filmes, Memoria (2021), de Apichatpong Weerasethakul, Em Busca da Vida (2006), de Jia Zhangke, e La Llorona (2019), de Jayro Bustamante, e analisa como cada obra encarna um aspecto distinto da imagem-tempo negativa. Por meio de uma análise detalhada da forma cinematográfica, planos longos, linhas do tempo fragmentadas, design sonoro e o uso visual de ruínas e fantasmas, examina como esses filmes realizam um luto não linear. Em vez de resolver o luto de maneira progressiva, eles permanecem suspensos numa temporalidade liminar “entre duas mortes”, onde as vítimas da violência histórica persistem em forma espectral. O ensaio desenvolve a ideia de dívida temporal como os débitos não quitados da história, feridas que permanecem abertas, perdas ainda não choradas, e argumenta que o cinema, nesses casos, se torna num meio de registrar essa dívida. Por fim, o ensaio entrelaça os fios teóricos e cinematográficos para propor o cinema como um regist o assombrado do tempo, estendendo a metáfora para terrenos especulativos como o colapso ecológico e as pós-vidas digitais. O resultado é um argumento coeso sobre a capacidade do cinema de visualizar o tempo-fantasma de histórias inacabadas.
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