Haunted Home Movies — Dialectical Image and the Archive Fever in Contemporary Found Footage Films

Resumo

Neste artigo, analisamos duas obras de found footage feitas inteiramente com filmes caseiros: Happy End (1996) do cineasta austríaco Peter Tscherkassky e o longa-metragem Private Footage (2022) da cineasta brasileira Janaína Nagata. Estes filmes fazem parte de um “sintoma” ou movimento contemporâneo que se concentra em revisitar arquivos privados a fim de problematizar a História oficial. Fornecemos, primeiramente, uma breve revisão do estado da arte; num segundo momento, referenciamos o enquadramento teórico e as fontes bibliográficas chave pertinentes à análise. Subsequentemente, realizamos uma análise ad hoc de cada filme, empregando uma metodologia qualitativa comparativa entre crítica genética e teoria do cinema. Esta abordagem demonstrará como esses filmes são assombrados por fantasmas, histórias suprimidas e camadas subterrâneas de significado que emergem deste arquivo supostamente "ingênuo" através das operações de montagem. Poderiam esses filmes, situados na interseção entre memória e imaginação, resgatar narrativas negligenciadas e constituir uma forma de “pró-memória”? Mostraremos como esses filmes se aproximam do conceito de inconsciente ótico e imagem dialética de Walter Benjamin e como podem ser vistos como parte do "mal de arquivo" conceitualizada por Jacques Derrida. Concluímos argumentando que cada cineasta explora a virtualidade hauntológica ou a parte "silenciosa" do arquivo, utilizando suas potencialidades dialéticas para investigar as “invisibilidades” produzidas pela história colonial e os espectros do fascismo que ecoam no presente. Tscherkassky e Nagata confrontam as “origens” dessas imagens, demonstrando que o passado ainda sobrevive como um não dito, negado e recalcado que pode finalmente vir à tona com o gesto artístico do détournement.