Memória Fóssil
A Fotografia como agente fossilizador da História
DOI:
https://doi.org/10.34619/phyv-isvyParole chiave:
fotografia, pré-história, fósseis, memória, pós-históriaAbstract
Da luz natural, enquanto agente revelador de forma e substância de expressão natural (Deleuze e Guattari 2007), à luz tecnicamente mediada, que desde a Modernidade fez da fotografia o seu sintoma, parece preexistir uma fotografia latente cravada nas matérias da Terra, visível na expressividade natural com que se foram imprimindo fósseis que antecedem a fotografia em milhões de anos — as evidências materiais que indicam a existência de acontecimentos ou entidades ante-riores à consciência humana, os archéfósseis (Meillassoux 2009). Considere-se como axioma: os fósseis são as primeiras memórias fotográficas da Terra.
O dispositivo fotográfico, tanto na captura como no registo mnemotécnico, participa nessa co-afinidade com a natureza: é o que podemos ler em Walter Benjamin quando diz que a fotografia, enquanto objeto, foi arrancado “da história ao continuum da evolução histórica […] representada no seu interior a sua própria pré- e pós--história [...]” (Benjamin 2019, [N 10,3]). Também neste ensaio visual procuramos suspender a linearidade histórica, ao confrontar fósseis e objectos de produção industrial (que pela erosão e agregação de substâncias, são já protofósseis humanos do por vir), todos eles encontrados na zona costeira Oeste de Portugal. Analogamente mediados pela visualidade da imagem fotográfica, com esta pequena coleção instancia-se uma inquirição ontológica sobre um mesmo destino, quer dos fósseis, como dos vestígios humanos, enquanto memória-fossilizada. Tanto os fósseis da História Natural como os objetos tornados fósseis, quando enquadrados pela máquina fotográfica, tornam-se, seguindo a leitura de Vilém Flusser, “[…] o sentido da Pós-História [...]. A história da História Natural é o pró-prio filme.” (Flusser 2002, 145). Quando retirados do seu contexto estratigráfico e reenquadrados na história enquanto imagens técnicas, consubstancia-se especulativamente um exercício tafonómico — a análise dos processos de preservação de vestígios (do soterramento ao seu devir fotográfico) articulando as imagens fotográficas a legendas geo-lógicas sobre a memória-fóssil, que encontra na fotografia agente fossilizador da pré- à pós-História.
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