Nostalgia, o cancelamento do futuro e o arquivo paradoxal

Autori

Parole chiave:

Nostalgia, Futuro, Arquivo, Memória, Materialidade, Arqueologia

Abstract

O esgotamento da noção de utopia — cujo espírito baseado na crença optimista num futuro melhor marcou a Modernidade ocidental — abriu espaço para uma outra que, progressivamente, ganhou centralidade na cultura contemporânea: a noção de nostalgia (Fredric Jameson). Por um lado, esta noção carrega em si a ideia de que a Modernidade é um projecto inacabado (Jürgen Habermas), cujas promessas não se chegaram a realizar, mas em relação às quais há um constante retorno. Por outro lado, e consequentemente, a nostalgia liga-se à percepção cultural de uma certa exaustão da temporalidade histórica ou da ideia de progresso. Em suma, se já não estamos certos de que o futuro se vai concretizar, estamos presos no presente e, portanto, resta-nos rememorar, não apenas o passado, mas o próprio presente, numa espécie de ciclo vicioso que pode ser lido como um lento cancelamento do futuro (Bifo Berardi). A partir desta leitura cultural, perspectivas críticas sugerem que os media e as indústrias culturais actuais favorecem este impasse — configurado como nostálgico — porque insistem em fórmulas familiares que mais não fazem do que recuperar modelos repetidos sem oferecerem alternativa para a produção da heterogeneidade (Mark Fisher). O arquivo surge, então, numa dimensão paradoxal. Por um lado, poder-se-á assumir que todos os media são meios de registo que trabalham, sobretudo com a digitalização geral, a constituição de um arquivo universal que tudo guarda. Por outro lado, de que arquivo poderemos falar na época de um eterno presente, sem alternativas, que apenas reescreve ou sobre-escreve as referências simbólicas da actualidade? Perante esta aporia, importa-nos aqui pensar o modo como certas abordagens artísticas (o uso do crackle na música de Caretaker ou de Burial; a arqueologia da materialidade do cinema na obra de Tacita Dean, a reprodutibilidade do arquivo no trabalho de Mark Leckey) têm procurado expor o modo como os media materializam a memória, abordagens, que a partir de uma abertura disruptiva da noção de nostalgia, questionam a temporalidade do presente e da própria História (Walter Benjamin). 

Pubblicato

2020-05-23

Come citare

Bogalheiro, M. (2020). Nostalgia, o cancelamento do futuro e o arquivo paradoxal. Revista De Comunicação E Linguagens, (52), 105–124. Recuperato da https://revistas.fcsh.unl.pt/rcl/article/view/1437

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