Ainda

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DOI :

https://doi.org/10.34619/31ug-hwke

Mots-clés :

literatura, cinema, deriva, refotografia

Résumé

Ainda parte do romance Bruges-La-Morte, escrito por Georges Rodenbach em 1892, no qual Hugues Viane se instala na cidade depois de enviuvar e ali encontra uma mulher igual à sua amada (premissa do mito de Orfeu e Eurídice — a morta morre uma segunda vez). É tido como o mais antigo livro que usa a fotografia como parte da sua narrativa.

Trinta e uma imagens da cidade, feitas entre 1888 e 1890 pelos estúdios parisienses de Levy & Neurdein, integram a primeira edição da Flammarion. São introduzidas por Rodenbach numa nota introdutória: “não são apenas panos de fundo ou temas descritivos arbitrariamente escolhidos, antes se ligam, verdadeiramente, à acção do livro” (Rodenbach, 1898, 3).

Bruges-la-Morte inspirou um número de adaptações e remakes. Ópera: Die Tote Stadt de Korngold (1932), Cinema: adaptado em Rêves, de Yevgeni Bauer (1915), em Mas Allá del Olvido, de Hugo del Carril (1956), e nos filmes homónimos de Alain d’Henáut (1980), Ronald Chase (1978) e de Rolland Verhavert (1981). Em 1954, Boileau e Narcejac fazem um remake literário, D’entre les morts, que Alfred Hitchcock usa para Vertigo (1958). Em 1962, Chris Marker estreia La Jetée, afirmando ser um remake de Vertigo. (Burgin 2004, 89)

Bruges-la-Morte torna-se precursor de um subgénero - seguido por Sebald, Breton, Calle e Blaufuks, entre outros - que explora a relação texto-imagem como um todo holístico, numa acepção próxima do que Roland Barthes chama de terceiro sentido, depois dos níveis óbvio e simbólico, obtuso como o ângulo maior que o recto, e que, fora da linguagem, não pode ser descrito mas apenas constatado (Barthes 1990, 45-61).

A minha memória para esta série é uma pletora de influências e reminiscências vindas de viagens e permanências em Bruges a partir do livro e das suas ressonâncias. As imagens que a constituem são impressões instax a partir de fotografias do autor e fotogramas dos referidos filmes Vertigo, La Jetée e Rêves.

Biographie de l'auteur

Eduardo Brito, I2ADS — Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto

Eduardo Brito trabalha em cinema, escrita e fotografia. No cinema, escreveu e realizou a longa-metragem A Sibila (2023), a partir do romance de Agustina Bessa-Luís. Realizou várias curtas metragens, entre as quais Penúmbria, Declive e Úrsula. Escreve regularmente argumentos para filmes de vários realizadores, entre os quais Rodrigo Areias, Manuel Mozos, Paulo Abreu e Luís Costa. Entre a fotografia e a palavra, os seus trabalhos exploram quase sempre os temas verdade-ficção-memória, bem como a relação texto-imagem: assim com os livros As Orcadianas, East Ending, Fala Comigo, Pedra e Histórias Sem Regresso. É doutorando em Artes Plásticas na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP), bolseiro FCT. Tem o mestrado em Estudos Artísticos, Museológicos e Curadoriais pela FBAUP, com a dissertação “Claro Obscuro — Em Torno das Representações do Museu no Cinema”. Fez especialização em guionismo na Escuela Internacional de Cine y TV, em Cuba. Ensina regularmente, como assistente convidado, na FBAUP e na ESAD.

Publiée

2025-07-11

Comment citer

Brito, E. (2025). Ainda. Revista De Comunicação E Linguagens, (62), 168–185. https://doi.org/10.34619/31ug-hwke