O artigo propõe-se refletir sobre a dupla dimensão mitográfica de Fernando Pessoa como ícone de uma universalidade póstuma e como poeta-símbolo de Portugal. Dois processos estão no centro da reflexão hermenêutica de Eduardo Lourenço sobre a figura do poeta da Mensagem como mito. Se não existem dúvidas acerca do papel da fortuna crítica e editorial de Pessoa fora de Portugal (através das traduções mas não só, se se pensa no caso do Brasil), mais problemático é entender a canonização (quase domesticação) identitária a que foram submetidas a obra e a figura de Pessoa como um dos capítulos (ainda por desvendar) da história da invenção do mito-Pessoa.