Este estudo tem o objetivo de analisar e discutir a noção de “ante-Pessoa”, atribuída por Jorge de Sena a Miguel Torga em 1960, conceito que reitera a visão crítica mais geral de Eduardo Lourenço apresentada no célebre ensaio “Presença ou a Contra-Revolução do Modernismo Português?” (1958). Considerando a intertextualidade que alguns poemas de Torga, publicados tanto no Diário (1932-1994), como em Penas do Purgatório (1954) e em Orfeu Rebelde (1958), estabelecem com Autopsicografia (1931), poema-síntese da ars poetica de Fernando Pessoa, buscamos revelar como o até aqui pouco referido trabalho torguiano de intelectualização das emoções relativiza esse lugar-comum historiográfico.