O objetivo deste ensaio é confrontar alguns subenredos da narrativa histórico-literária estabelecida sobre o modernismo português com o seu contexto cultural mais alargado, nomeadamente no que diz respeito ao fator sexo/género, cuja relevância tem sido tradicionalmente negligenciada nas representações canónicas da época. Foco-me, em particular, na emergência robusta da autoria literária feminina nas primeiras décadas do século vinte, na medida em que este fenómeno pode ser relacionado com eventos centrais do cânone modernista, como o lançamento das revistas Orpheu (1915) e presença (1927) e a polémica em volta da chamada “Literatura de Sodoma” (1922-23).