O momento decisivo da vida do narrador do conto inacabado O Peregrino, escrito em 1917, é um encontro com um estranho homem de preto. Essa breve interacção reactiva instantaneamente uma melancolia antiga e precipita a decisão de partir de casa dos pais em peregrinação. À luz de algumas das considerações feitas por Freud em Das Unheimliche (1919), assim é porque tal interacção se lhe apresenta como a revisitação de uma qualquer unidade psíquica primordial, há muito desaparecida. Neste artigo, não só defendo que a história deste peregrino é uma alegoria da crise psíquica sentida por Pessoa a partir de meados de 1914, precisamente após a criação heteronímica, como sugiro que o aparecimento de Alberto Caeiro (e sucessiva companhia) é sistematicamente interpretado por Pessoa como uma revisitação dessa ordem.