Fernando Pessoa descreveu o seu dia triunfal, 8 de março de 1914, como o momento epifânico de criação do mestre Alberto Caeiro. Enquanto os filólogos têm evidenciado a natureza ficcional desta descrição, com base nas caraterísticas dos manuscritos deixados pelo autor, diversas interpretações procuram salvaguardar a importância do seu significado, separando o campo poético do factual. O presente ensaio pretende analisar, em diálogo com a literatura crítica e partindo de uma revisão dos dados materiais dos manuscritos, as diversas narrativas do autor a respeito do dia triunfal, entendendo-as como variações em torno de um tema. Renunciando tanto a uma ideia de construção fantasiosa de Pessoa quanto à da sua perfeita adequação a factos, propõe-se uma análise das descrições desta epifania enquanto modulações literárias de um acontecimento real, cujo significado é decisivo para uma compreensão dos fundamentos da obra.