Em 1935, Pessoa não conseguira ainda terminar nenhuma das dezenas de novelas policiais que projectou e foi escrevendo, ao longo de anos. Esse facto não impediu, porém, a construção de uma sólida personagem como a do detective ou decifrador de charadas Abílio Quaresma. À maneira do seu criador, Quaresma é um celibatário devoto da ratio, mas é também uma presença dominadora, uma espécie de parceiro de Deus, que tudo perscruta e descobre. O seu discurso especulativo toma conta da narrativa, reduzindo ao mínimo a acção e estabelecendo uma ponte entre policial e filosofia.