O artigo propõe-se ler O marinheiro, de Fernando Pessoa, sob um viés alternativo à aproximação com a obra dramática e teórica de Maurice Maeterlinck. Embora este “drama estático em quadro” efetivamente remonte ao dramaturgo belga, o texto publicado em Orpheu 1 apresenta características que ultrapassam as convenções da estética simbolista. Isso porque o estatismo também se faz presente em dramas modernos e contemporâneos, não se limitando ao período finissecular. Deste modo, procuramos sustentar que a peça de Pessoa pode ser associada ao “regime infradramático”, categoria proposta por Jean-Pierre Sarrazac, na qual a ação dramática tem seu estatuto modificado, revelando-se menos ativa do que passiva, o que favorece o desenvolvimento desta antes no âmbito psíquico do que no exterior. Ainda assim, uma sucinta análise daquele “drama estático” terá o objetivo de nele identificar um traço que Martin Esslin considera ser característico de uma obra dramática convencional: a criação de suspense.