Em Fevereiro de 2019, num artigo publicado no Jornal de Angola, a presidente da Plataforma para o Desenvolvimento da Mulher Africana (PADEMA) acusou o poeta Fernando Pessoa de ter sido um “escravocrata racista”. A acusação de Luzia Moniz, na altura motivada pela escolha de Pessoa, por parte da CPLP, para patrono de um programa de intercâmbio universitário no espaço lusófono, baseia-se em três passagens avulsas de Pessoa, nas quais a suposta mácula se verifica indiscutivelmente. Este artigo oferece uma análise cuidada das três passagens em causa, reflecte acerca da importância do acto interpretativo e, não esquecendo o contexto de produção dos textos em que as passagens ocorrem, as intenções específicas do autor ao escrevê-los e a relação desses textos com outros textos pessoanos que ajudam a compreendê-los, procura questionar a legitimidade dessa acusação.