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Este artigo coloca em evidência uma das questões críticas mais fundamentais do pensamento de Jorge de Sena sobre Fernando Pessoa: a articulação entre o homem que concebe e o artista que realiza. Nessa passagem do desejo à execução da obra, Sena situa o cerne do fenômeno heteronímico – a invenção do autor – como um elemento necessário para que o poeta atinja a grande criação, ainda quando escrevesse sob o signo ortônimo. Trata-se de uma hipótese explicativa sobre o processo de escrita pessoano, em que a ação de “devir-heterônimo”, próxima ao conceito posteriormente forjado por José Gil (1987), figura como síntese entre o esvaziamento do eu e a consciência artística do poeta.