Partindo da releitura de algumas passagens das duas cartas escritas por Fernando Pessoa e dirigidas a Adolfo Casais Monteiro, em 13 de janeiro e 20 de janeiro de 1935, o ensaio percorre os sinais de uma ideia pessoana de autor profundamente associada à noção de génio e de uma ordem superior, em que a escrita e a publicação de livros obedecem a um desígnio histórico e transcendental que os livros realizam. O “autor de autores”, ou criador da invenção heteronímica, também qualificada como “drama em gente”, surge, assim, como resultado, não de uma desagregação ou de uma crítica, mas de uma exacerbação hiperbólica da noção moderna de autor, ou seja, de uma visão da escrita literária que, de acordo com um fragmento com data provável de 1913, seria “a auto-expressão esforçando-se por ser absoluta”. Defende-se, a concluir, que à luta de Pessoa pelo lugar de “poeta supremo” da Europa faltou sempre, no entanto, a existência de uma cultura europeia para a qual tal lugar tivesse, no século XX, qualquer espécie de importância.