Fernando Pessoa identificou Alberto Caeiro como o seu mestre e o centro do seu universo poético. Caeiro, por sua vez, elegeu as plantas como os seus mestres, sendo a postura despretensiosa e simples e a resistência a categorias metafísicas destas últimas uma inspiração para a escrita do heterónimo. Neste artigo, analiso a relação de Caeiro com as plantas como uma proto-fenomenologia e um exemplo do que defino como “realismo superficial,” uma abordagem à realidade que abandona a busca pela profundidade, considerada como uma construção metafísica obsoleta. Concluo com uma interpretação da heteronímia de Pessoa e da sua inautenticidade como um exemplo de fitografia, uma escrita influenciada pelo modo de estar no mundo das plantas.