Num verso da “Saudação a Walt Whitman”, Álvaro de Campos define o desejo de fazer arte como o equivalente adulto do impulso infantil que leva uma criança a entreter-se com brinquedos. Este género de definição de autor ocorre com alguma frequência na obra de Pessoa. Numa carta de Fevereiro de 1915 a Ronald de Carvalho, por exemplo, Pessoa sugere que a actividade poética a que tanto ele como o destinatário se consagram não é senão a resposta dos adultos que são ao facto de, a dada altura, lhes terem sido tirados os brinquedos com que se entretinham. A análise detalhada de Antinous que proponho neste ensaio procurará defender que o longo epicédio em inglês publicado em 1918 é uma versão poética desta tese peculiar acerca de autoria, e que a actividade de estatuário a que o imperador Adriano promete dedicar-se depois da morte de Antínoo corresponde, acima de tudo, a um modo adulto de lidar com a inevitabilidade da perda do brinquedo com que se entretinha enquanto jovem.