O presente ensaio entende o texto “Nós os de Orpheu” de Fernando Pessoa a partir do seu contexto específico de publicação, uma revista que presta homenagem a Orpheu, vinte anos depois da sua curta existência, e à Presença, dominante no panorama literário nacional coevo. Atendendo à circunstância de ser a colaboração em Sudoeste a última publicação em vida de Pessoa, estas são as suas derradeiras e, nesse sentido, definitivas palavras sobre Orpheu. Esta nota será discutida, por um lado, tendo presentes outros textos em que Pessoa se pronunciou sobre Orpheu e, por outro, considerando-a como acto de distinção relativamente ao movimento presencista. O confronto entre Orpheu e Presença, que este número de Sudoeste encena e promove, passou a ser determinante na leitura do modernismo literário português. Este ensaio defende que é a consciência dessa confrontação a subjazer à nota editorial de Pessoa e a tornar decisivas as escolhas dos outros textos que o autor decidiu publicar nessa mesma ocasião, o poema “Conselho”, em nome próprio, e a “Nota ao Acaso”, de Álvaro de Campos.