Pedro Sepúlveda é professor associado no Departamento de Estudos Portugueses da NOVA FCSH e investigador do IELT, da mesma faculdade. O seu trabalho desenvolve-se nos campos da Literatura Moderna e da Crítica Textual, com foco particular em Fernando Pessoa e no modernismo literário português. Publicou recentemente o ensaio Ostensivo e Reservado, Leituras de Pessoa (IN, 2024) e editou os volumes de Eduardo Lourenço Pessoa Revisitado, Crítica Pessoana I (1949–1982) e O Lugar do Anjo, Crítica Pessoana II (1983–2017), publicados pela Gulbenkian. Coordena o projeto de investigação Estranhar Pessoa (estranharpessoa.com) e é coeditor da Edição Digital de Fernando Pessoa: Projetos e Publicações (pessoadigital.pt).
Eduardo Lourenço encontra em Pessoa um conflito insolúvel entre realidades ontológicas opostas, nenhuma sendo capaz de prevalecer sobre a outra: a realidade e a ficção, a autenticidade e o fingimento, a totalidade e o fragmento, o conhecimento e a ignorância ou o amor e a sua ausência. Este conflito remete não apenas a uma dimensão trágica da obra pessoana como, segundo Lourenço, a outra profundamente romântica, nelas se revelando, a par do lamento pela falência do que é almejado, um desejo ilimitado de plenitude da experiência humana.
Percorrendo diversos textos do ensaísta, com especial foco em ensaios que abordam um determinado tópico da obra (o amor, a ficção, o teatro, a viagem, o mar ou o tempo), o presente artigo visa delinear e problematizar a imagem recorrente na ensaística de Lourenço de um Pessoa trágico e romântico.