Neste artigo abordo as relações entre o movimento surrealista português e o fenômeno ficcional que Eduardo Lourenço analisa em “Uma Literatura Desenvolta ou os Filhos de Álvaro de Campos” (1966). Após uma breve apresentação do tipo de contestação que, segundo Lourenço, define a prosa desenvolta, comento um ensaio de Nelly Novaes Coelho e uma conferência de Maria Lúcia Lepecki sobre a importância do surrealismo nas transformações da prosa narrativa que lhe é subsequente. Em “Psicanálise Mítica do Destino Português” (1978) Lourenço retoma a tese da literatura desenvolta, inserindo em seu esquema interpretativo um elemento ausente no ensaio de 1966: o surrealismo. O movimento de Mário Cesariny e António Maria Lisboa é-nos agora apresentado como fundamental no processo de subversão das imagens pátrias e no reatar da tradição modernista, que preparou o terreno para o advento da nova ficção nas décadas de 50 e 60 do século XX.